SEMINÁRIO BRASILEIRO DE MUSEOLOGIA - SEBRAMUS, 4 Sebramus

MUSEU KANINDÉ: FERRAMENTA DE FORMAÇÃO INTERDISCIPLINAR ENTRE ÍNDIOS NO CEARÁ

Suzenalson da Silva Santos

Resumo


Este trabalho propõe analisar os métodos pedagógicos diferenciados realizados pelo Museu Indígena Kanindé primeiro museu indígena criado no Ceará em 1995, e o segundo museu indígena no Brasil, pelo seu fundador cacique Sotero, onde o mesmo passou a ser um elemento essencial da identidade indígena do povo, numa perspectiva de construção coletiva, ao mostrar o próprio olhar do índio Kanindé sobre sua versão da história, desde então, o museu dos Kanindé vem chamando atenção principalmente por suas atividades realizadas em torno da educação escolar indígena e em museologia indígena em parceria com a Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos, localizada no sitio Fernandes, Município de Aratuba relacionado ao ensino da história na formação interdisciplinar dos alunos Kanindé. Tem por objetivo demonstrar as praticas de ensino realizado com os componentes do Núcleo Educativo do Museu Indígena Kanindé que são alunos da Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos na tentativa de buscar uma pratica de ensino diferenciado em educação indígena buscando o fortalecimento da identidade Indígena do povo bem assim como a luta pelo território indígena e a formação de novos atores para atuar no movimento social dos Kanindé. Fundamentaliza as atividades desse trabalho o projeto político pedagógico da escola indígena Manoel Francisco dos Santos e a proposta pedagógica do Museu Indígena Kanindé que integralizam atividades de formação conjunta dando concretização a um sistema próprio de ensino e aprendizado assim como sistematiza a resolução 05/2012 que define as diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar indígena na educação básica dando ênfase ao currículo da escola indígena ligando as concepções e praticas a interdisciplinaridade e contextualização na articulação entre os diferentes campos do conhecimento valorizando os saberes, a oralidade e a história do povo para atender as especificidades do contexto escolar e comunitário do povo. Metodologias foram articuladas para trabalhar com memória e patrimônio junto a escola, sendo essa a melhor opção para aproximar o museu e começar a explorar mais as potencialidades didáticas da linguagem da linguagem museológica nos processos de ensino e aprendizagem dentro e fora da escola, dentre as ações realizadas podemos destacar em um primeiro momento da formação para os professores indígenas kanindé em história e antropologia indígena, dificuldade analisada pelos próprios educadores que tinham dificuldade em repassar e ter conhecimento sobre a história do povo. Com uma formação focada no publico escolar desta vez foi a realização do curso historiando os kanindé realizado com os alunos da escola indígena que mais adiante se tornariam monitores do núcleo educativo do museu indígena kanindé, e obtiveram em sua formação além de conhecimentos dos saberes indígenas próprios do povo kanindé, também obtiveram conhecimento e formação sobre: Antropologia, Arqueologia, História Indígena, Memória Local e Patrimônio Indígena, Museologia, Cartografia Social, Fotografia, Áudio Visual entre outros como forma de resguardar e conhecer saberes para fortalecer o conhecimento e a identidade dos kanindé. A partir de então se desenvolveram várias atividades de formação para com os indígenas que culminou com a criação do Núcleo Educativo do Museu Indígena Kanindé. O aprendizado dos Monitores do núcleo educativo do Museu Kanindé sempre foi um desejo do cacique Sotero para que pudesse dar sustentabilidade a cultura e a memória dos Kanindé, diante das ações de formação desenvolvida pelo Museu os estudantes / monitores se tornaram homens e mulheres de grande conhecimento e futuras lideranças, as formações foram de suma importância e Muitos desses alunos que participaram  das gerações anteriores do Núcleo Educativo atualmente passaram no vestibular e hoje fazem universidade em cursos que vão desde a gastronomia, administração, biologia,  Agronomia, Humanidades entre outros. A vontade dos alunos, bem como da comunidade no geral é de que os mesmos voltem e deem sustentabilidade e continuidade à educação e cultura do povo Kanindé. Compreendemos que o museu indígena Kanindé configura-se como espaço propicio para a educação indígena, pois este espaço cultural deve promover e orientar atividades de pesquisa e extensão cultural, com objetivo de refletir sobre a construção de estratégias de desenvolvimento para a própria  comunidade, deste modo, nos últimos anos o museu indígena Kanindé vem realizando diversas ações em parceria com a Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos que contribuem no fortalecimento da organização comunitária ao trabalhar diversas formas de socializar a memória, o patrimônio, bem como as práticas culturais, difundindo a história local como forma de assegurar às futuras gerações a memória social dos Kanindé. Hoje o Museu Indígena Kanindé constitui-se num centro de documentação que guarda interessantes indícios sobre o processo de organização política em torno da identidade étnica. Participa ativamente das mobilizações indígenas que envolvem as temáticas da memória, do patrimônio e dos museus a nível local, estadual e nacional. Essa participação ativa vem proporcionando um respaldo e grande reconhecimento de suas ações de gestão, ação educativa e manutenção do patrimônio e da memória local.  Os Kanindé sempre demonstraram ao caminhar por ser um povo forte, guerreiro, que sempre buscou formas de sobrevivência e sobressair das dificuldades, preconceitos e das diversas perseguições dos opressores. Os mesmos são responsáveis por contar e refazer sua própria história, retirando de suas vidas os entraves que hoje servem como aprendizados e na luta por afirmação indígena. Seus guardiões da memória estão conseguindo fortificar e solidificar e enriquecer o movimento, a cultura e a afirmação étnica. Fundamentais na caminhada para afirmação étnica Kanindé, sem dúvida, a Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos e o Museu Indígena Kanindé, com suas filosofias e metodologias de educação diferenciada vem contribuindo para o enriquecimento cultural e valorizando da cultura do povo Kanindé. Suas ações educativas e práticas de formação em letramento buscam sempre formação crítica de novas lideranças, possibilitando nossa entrada nas universidades e produzindo conhecimentos que garantiram nossa sustentabilidade e bem viver na comunidade. a diversidade existente na memória do povo Kanindé é existente para fortalecer as diversas dinâmicas sociais dentro da comunidade e que esses espaços conhecidos pelos guardiões da memória como veredas nos sãos primordiais para entendermos todo o processo de história, afirmação étnica e organização comunitária entre os índios Kanindé no Ceará.