Última alteração: 2019-06-29
Resumo
A partir da publicação da Mesa Redonda de Santiago (1972), da Declaração de Quebec (1984) e da Declaração de Caracas (1992) o fazer museológico adquire um maior alcance social. Trata-se de documentos fundamentais para compreender a mudança do pensamento museológico na contemporaneidade. Com essas contribuições, houve um alargamento do conceito de patrimônio e de bem cultural, além de um novo entendimento sobre a categoria “museus”, os quais passaram a contar com a participação das comunidades. A Constituição Federal (1988), nesse sentido, atentou para os grupos formadores da sociedade brasileira que estavam fora do reconhecimento e da ação do Estado. Isso significa o reconhecimento das expressões culturais de grupos formadores da sociedade brasileira, particularmente de indígenas, afro-brasileiros e comunidades detentoras de manifestações de caráter tradicional e de transmissão oral. O reconhecimento do patrimônio intangível nas referidas comunidades demonstra a potencialidade que o patrimônio tem para fornecer visibilidade à diversidade e pluralidade culturais do país.
Partindo desse entendimento, nossa intenção nesta comunicação é perceber como um movimento social, especificamente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dentro de suas diversas manifestações, (re)constrói o seu patrimônio cultural e suas narrativas. O objetivo, portanto, é refletir sobre o processo de constituição e transmissão do patrimônio político, cultural e religioso do MST. Esse patrimônio pode ser percebido na valorização de símbolos representativos da trajetória de luta e resistência do Movimento, na utilização de determinadas expressões, na mística, na preparação para uma ocupação de terra e no processo de montagem das barracas de lona preta. Manifesta-se, igualmente, na valoração, na representação e no reconhecimento de determinadas lideranças em âmbito nacional, bem como no papel que elas assumem no grupo político e no respaldo que adquirem na seleção, convencimento e recrutamento de novos integrantes. Para o desenvolvimento deste artigo, utilizaremos pesquisa bibliográfica e documental, observação in loco e um conjunto de entrevistas temáticas realizadas com militantes vinculados ao MST desde 1985, buscando identificar como o patrimônio cultural é acionado, reivindicado e resignificado por seus líderes.